Ao longo da vida da criança os adultos vão-lhe exigindo a capacidade de estar atenta, de aprender e de interagir de forma adequada, sendo muitas vezes desvalorizadas atividades informais, que são pilares para todas estas competências. Mas afinal porque é que é tão importante o “brincar”?
Desde cedo a criança descobre o seu corpo e o meio através de experiências diversificadas, desde explorar a chupeta, jogos de “cu-cu”, até brincadeiras mais complexas como construções, jogos de equipa e jogos de tabuleiro.
Nos primeiros meses de vida, o bebé explora os brinquedos de forma ativa, abanando, abrindo, fechando, encaixando, de forma a obter uma experiência sensorial (ex.: ouvir o brinquedo a cair ao chão, ver o movimento e as cores, etc.). Esta exploração vai permitir à criança desenvolver competências de coordenação motora, de controlo postural e de processamento cognitivo. Se ao brincar associarmos a mediação e interação do adulto, podemos ainda promover momentos de atenção conjunta (momento em que ambos brincam/exploram algo em conjunto), da construção do autoconceito e desenvolvimento socioemocional (ex.: dar miminhos, dizer adeus, cantar/ouvir canções). Por fim, em termos de linguagem e comunicação, em idades tão pequenas é importante promover a intenção de comunicar (comunicação expressiva pré-verbal) através destas brincadeiras mais informais.
À medida que a criança se vai desenvolvendo, as suas brincadeiras vão-se tornando cada mais complexas, envolvendo um maior número de intervenientes e de objetos. Na idade pré-escolar, as crianças tendem a desenvolver competências relacionadas com a construção, com os jogos faz-de-conta (inicialmente sozinhas e depois com mais “personagens”), tendo muito por base a imitação dos adultos que a rodeiam.
Nesta fase surgem as brincadeiras de tomada de vez (ex. jogos de cartas, jogo do esconde), com regras cada vez mais complexas, que permitem à criança desenvolver competências de autoregulação e adequação social. É ainda nesta janela de oportunidade que ocorre o desenvolvimento da linguagem recetiva e expressiva, através do aumento do vocabulário e da necessidade de criar frases para enriquecer a interação com os pares.
Em idade escolar, a criança vê o seu tempo destinado a brincar a ser repartido com um leque alargado de novas responsabilidades (aulas, trabalhos de casa, atividades extracurriculares, etc.), sendo muitas vezes induzida a organizar o seu dia-a-dia de forma tão limitada, que escassos minutos lhe restam para brincar.
Não nos esqueçamos, pois, que brincar é fundamental para expandir competências cruciais ao seu desenvolvimento saudável, sobretudo quando o processo de brincadeira é partilhado. Brincar com os pares permite à criança descodificar pistas sociais, incorporar regras, gerir conflitos e negociar. É também neste cruzamento consigo e com o outro que as oportunidades de autoconhecimento, de autoregulação e de resolução de problemas surgem e que os processos de identificação e integração social se criam.
Existem evidências de que, também na escola, a pausa para brincar, durante o recreio, assume efeitos positivos na atenção, no raciocínio, na aquisição de aprendizagens e na motivação escolar da criança.
O papel do adulto nas brincadeiras é fundamental, seja ele na interação com a criança enquanto brincam, mas também enquanto instigador do brincar. É importante que os pais demonstrem à criança o quanto apreciam que ela brinque sozinha ou acompanhada, mas sobretudo que seja FELIZ!