Ao longo de todo o desenvolvimento, o ser humano é forçado a lidar com um leque interminável de situações que exigem uma elevada gestão emocional. Quanto mais precocemente este aprender a identificar e a regular as suas emoções face às adversidades, mais facilmente estará disponível para conseguir resolvê-las de forma ajustada e saudável.
O confronto com estes desafios inicia-se desde muito cedo, logo ao nascimento, quando o recém-nascido se depara com uma realidade que lhe é totalmente desconhecida. Nesse momento, o bebé exterioriza as suas emoções através da expressão corporal, sem, no entanto, as conseguir identificar, distinguir e/ou regular. Ao longo do seu desenvolvimento, este vai adquirindo competências que lhe permitem reconhecer as mais variadas experiências emocionais. Aos três meses, por exemplo, o bebé já entende o sorriso dos demais e aos 5 meses já demonstra medo quando ouve barulhos inesperados.
É evidente o poder que as emoções assumem sobre nós, até mesmo nos pequenos pormenores do quotidiano. Já reparou, por exemplo, que quando tenta fazer uma tarefa que geralmente domina num período de maior ansiedade, esta atividade se torna muito mais complexa e desafiante para si? As emoções efetivamente são impactantes na nossa vida e, quando não identificadas, podem abalar de forma extremamente desafiante o dia-a-dia. Na infância, este impacto é maior, dado que as crianças ainda exibem poucas competências de auto-regulação, o que pode gerar comportamentos difíceis de controlar. É por esse motivo que a inteligência emocional é uma competência essencial que deve ser estimulada em tenra idade.
Mas o que é a inteligência emocional e porque é que é tão importante para o desenvolvimento ajustado na infância? Trata-se da capacidade de identificar as próprias emoções e as emoções de terceiros, lidando com elas com ponderação e sensatez. Isto implica que a criança seja capaz de autoconhecer-se no que diz respeito às suas emoções, de modo a posteriormente agir sobre elas, regulando-as. De realçar que esta regulação não passa por uma repressão das emoções, mas, pelo contrário, em encontrar os recursos internos para as gerir. A inteligência emocional envolve ainda a compreensão das emoções dos outros com base nas suas expressões faciais, encarando-as com empatia.
Uma criança que não consegue reconhecer a experiência emocional (própria e dos outros), dificilmente será capaz de a gerir, o que se refletirá num provável adoecimento psicológico, com consequências graves na sua autoestima e no relacionamento interpessoal. Por sua vez, uma criança emocionalmente competente, ao compreender esta experiência, conseguirá gerir as suas reações emocionais de forma adequada, praticando a empatia e a aceitação incondicional do outro.
Em virtude disto, estamos cientes de que a inteligência emocional é uma competência altamente vantajosa para o desenvolvimento infantil, assumindo um impacto relevante na saúde mental das crianças, através da redução dos níveis de stress e ansiedade gerados por má gestão de experiências emocionais desagradáveis e desconhecidas. Além disso, esta contribui para que a criança aprenda a enfrentar situações desafiantes de forma mais ajustada, adotando estratégias de resolução de conflitos assentes no respeito e na valorização da condição emocional do outro, o que inevitavelmente terá um contributo significativo na qualidade dos seus relacionamentos interpessoais.
Não há dúvida que diariamente pisamos um terreno fértil no que toca à estimulação das competências emocionais das crianças. Não o desvalorizemos! O adulto é o principal modelo destes pequenos seres humanos, por isso, sempre que nos esquecemos de dar voz às nossas emoções ou que induzimos algum tipo de bloqueio emocional às nossas crianças, dizendo-lhes “não chores”, estamos a ensinar-lhes que elas devem ignorar os seus sentimentos. Devemos fazer precisamente o contrário: exprimir as nossas emoções e solicitar à criança que também o faça, auxiliando-a a traduzir por palavras o que sente. Neste processo de partilha mútua é fundamental ouvir a criança com empatia, colocando-nos no seu lugar e valorizando efetivamente a sua experiência emocional. Só assim estaremos a contribuir para uma infância emocionalmente saudável e para uma vivência futura da vida adulta com bases bem estruturadas.