Durante a nossa prática clinica deparamo-nos com vários tipos de diagnósticos diferenciais ao nível das perturbações dos sons da fala na infância. Uma elevada percentagem de Terapeutas da Fala trabalha com crianças com estas perturbações, todavia nem sempre é fácil identificar e diagnosticar. Existem vários tipos, nomeadamente, perturbações articulatórias, atraso fonológico, perturbação fonológica consistente/inconsistente e dispraxia verbal do desenvolvimento. Muitas destas podem ocorrer com outras perturbações primárias, daí ser difícil o seu diagnóstico precoce.
Na minha opinião é cada vez maior a preocupação dos pais e educadores/professores com o desenvolvimento da linguagem e da fala das crianças. Os pais chegam-nos à consulta com muitas dúvidas e suposições: “Porque é que o meu filho ainda não fala?”, “Será que o meu filho tem algum problema?”, “Ninguém percebe o meu filho”, “Será que ele é mudo?”, “Será que ele não ouve?” e nem sempre conseguimos dar respostas concretas aos pais, sendo necessário recolher várias informações, realizar uma avaliação detalhada e trabalhar junto de uma equipa multidisciplinar. São muitas as nossas dúvidas e, por muito óbvio que possa ser dizê-lo, cada caso é um caso. Daí ser cada vez mais importante trabalharmos em parceria com técnicos e profissionais de educação. É fundamental a partilha de informações e opiniões, de modo a que seja mais fácil a intervenção terapêutica.
Dentro da comunidade científica, a DVD é definida como uma dificuldade no planeamento e execução de padrões de movimento voluntário, em que não existem alterações ao nível das estruturas musculares e nervosas. Estudos demonstram que é uma perturbação rara que afeta entre 1-2/1000 crianças, mas um falso diagnóstico pode ter um grande impacto ao nível do desenvolvimento e aprendizagem das crianças.
De acordo com a American Speech- -Language-Hearing Association (ASHA) existem três aspetos característicos de DVD, de salientar a ocorrência de erros inconsistentes em vogais e consoantes, na produção repetida de sílabas e palavras; a lentificação e disrupção das transições de co-articulação entre sons e sílabas e por último a prosódia inadequada. Devemos ainda estar alerta a vários sinais como o aumento da frequência de erros em constituintes silábicos mais complexos, dificuldade na produção de vogais, presença de movimentos de procura (fenómeno designado por groping), dificuldade ao nível de tarefas de diadococinésia (produção de movimentos rápidos e alternados), discurso ininteligível e maiores dificuldades na produção de discurso espontâneo do que automático. A existência de histórico familiar com dificuldades na fala e/ou linguagem, transtornos na alimentação e presença de dispraxia oro-facial/oral e/ou global são também pontos a ter em conta.
Diagnosticar uma DVD é para um Terapeuta da fala um desafio que o põe à prova todos os dias, pois há a presença de características comuns de outras perturbações e a possibilidade de poder coocorrer com outras perturbações primárias. A DVD evolui com a maturação neurológica e alterar-se com a intervenção. Nem sempre é possível um diagnóstico precoce, pelas dificuldades de cooperação das crianças, das limitações ao nível da produção verbal e a inexistência de testes estandardizados específicos e com normas para comparação no contexto português europeu (todavia, de momento, está a ser desenvolvido). Quanto mais cedo for o diagnóstico melhor o prognóstico e, consequentemente, menor serão as dificuldades futuras. Penso que com a evolução científica, a experiência profissional de todos os terapeutas e a constante cooperação com os pais e outros intervenientes poderemos num futuro próximo conseguir identificar mais facilmente esta perturbação.