O meu filho tem dois anos e ainda não fala. O que é que isto quer dizer?

É frequente o aparecimento de crianças na consulta de Terapia da Fala, com a queixa de que aos dois anos ainda não falam. Na verdade, podem existir várias explicações para este atraso no desenvolvimento. Podem existir dificuldades ao nível da comunicação, da linguagem ou da fala… ou até mesmo em todas estas! A comunicação é a base do desenvolvimento linguístico e de fala e é um processo ativo de trocas de informações e ideias. Este processo implica que existam pelo menos dois interlocutores que passam e recebem uma mensagem.

A verdade é que desde que nasce, o bebé comunica através do choro. Quando o bebé chora, o adulto tenta atribuir uma razão para o mesmo, quer seja fome, desconforto, dor… A partir de determinada altura, o bebé passa a perceber que quando chora tem uma resposta positiva por parte do adulto, então o chorar torna-se intencional. Esta intencionalidade vai-se desenvolvendo, até à existência de gestos e fala.

Contudo, mesmo antes de falar, o bebé deve realizar troca de turnos de comunicação. A troca de turnos comunicativos é a tomada de vez, num processo de comunicação, onde a criança e o adulto compreendem a sua vez de comunicar, atribuindo uma importância ao papel do outro, enquanto parceiro comunicativo. Com apenas 1 mês de idade, o bebé, já pode realizar sequências de interação: Quando acordado e em posição facilitadora de estabelecimento de contacto ocular, o bebé vai olhar para o rosto do adulto, vocalizar e responder às vocalizações e movimentos realizados.

Um dos pré-requisitos para que a criança comece a comunicar, com eficiência, é a aquisição da competência de atenção conjunta. A atenção conjunta é uma partilha triádica entre a criança, o adulto e um objeto, em que se tem como objetivo direcionar a atenção do outro para um objeto, com o intuito de partilhar observações e experiências. Ou seja, a criança olha para o adulto e depois para o brinquedo, com o intuito de partilhar um momento com o adulto- brincadeira, por exemplo.

Só depois de se desenvolverem estas competências comunicativas é que se desenvolve linguagem. A linguagem engloba a capacidade de compreensão e expressão e é um elemento fulcral, para a criança conhecer o mundo. A criança aprende o que cada conceito é, através das suas experiências e da estimulação dada pelo adulto. Por exemplo, a criança olha para um cão e o adulto pode nomear, dizendo “é o cão!”. Apresentando consistência na nomeação, a criança vai começar a compreender o referente, ou seja, compreende que é um cão e quais são as suas caraterísticas. Só depois é que se passa para a fala!

A fala é processo motor complexo em que a criança exprime a linguagem previamente adquirida. De acordo com o desenvolvimento esperado, as primeiras palavras devem surgir por volta dos 12 meses. Seguindo-se de um aumento de vocabulário e de construções de frases. Aos dois anos, a criança deve utilizar frases com duas ou mais palavras (por exemplo, “dá pão”) e nomear diversos objetos.

«Como posso estimular a linguagem do meu filho?» Brinque! Seja expressivo, faça troca de turnos comunicacionais, de forma a promover a atenção conjunta, ensine as palavras nos contextos próprios do dia-a-dia, dê o modelo correto e amplie o que a criança diz (ex: a criança diz “au au”, o adulto pode responder: “O cão faz “au au”. Queres dar comida ao cão?”).

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